1 de julho de 2012

Aquário

Ainda que não queira sê-lo, não quero ser-me, mas orgulho-me por ter saltado do aquário e não ceder ao desejo de aumentar dimensões em prol dum prazer ordinário - ainda que me custe toda energia a tentativa de nadar contra a corrente.

27 de abril de 2012

Happines hit him like a train on a track...

Tocarei fogo em tudo e você me arranja roupas novas, de preferência moderninhas e excêntricas, daí partimos e largamos o passado. Eu rasparei a cabeça e você me ensinará a ouvir jazz, soul e aqueles artistas da contemporaneidade que relançam cd's em formato de vinil. E viveremos no apartamento decadente que os outros tanto odeiam, mas que nos é confortável, vez que nosso conforto vem do interior um do outro. Eu prometo que jamais falarei novamente "Acho que vou morrer de câncer" e farei o possível para sempre sorrir e jamais deixar meu pessimismo estragar as conversas das 18 horas. Se você morrer primeiro, eu prometo que jamais me casarei novamente e dedicarei minha vida exclusivamente à nossa centena de gatos. Mas se eu morrer primeiro, eu exijo que seu luto dure ao menos 1 mês. 

"The funny thing": Minha felicidade custa tão pouco... E não há quem pague.

14 de março de 2012

Marche Funèbre

Em cada um de nossos mortos, vai um pouco de nós. Até que de pouco em pouco, se vai tudo, e nós nos tornamos os novos mortos. Eles nos ensinam em seu silêncio mais do que qualquer ciência dos vivos poderia. O preço do aprendizado, entretanto, é caro demais. As lembranças contribuem para nosso martírio de cada dia. E aquilo do que antes reclamávamos, nos faz falta. Eis que jamais serei tão forte quanto fui, no momento em que tive que controlar minhas órbitas oculares, para não saltarem de pavor e tristeza, de dor e tristeza, de saudade e tristeza. Mas é com a dor que lhe pagarei uma passagem tranquila à eternidade. É com a dor que lembrarei de ti para todo o sempre. É com a dor que compensarei todo o seu sofrimento. And we'll love again, and we'll laugh again, and we'll cry again, and we'll dance again.

9 de março de 2012

Reza a lenda...

Que quando os instintos afloram, a represa cede e devasta tudo. Tudo que era, deixa de ser. Eis o motivo pelo qual reprimi com todas as minhas forças aquele pensamento, que nada mais é que o mais profundo dos meus desejos e o mais inconfessável dos meus segredos. Se concreto se tornasse, talvez eu experimentasse isso que chamam de felicidade. Não sobraria resto dessa mandona racionalidade, a quem sou ingrato, e por isso peço desculpas. Só não sei se com ela eu também seria devastado, ou se restaria alguma coisa de mim para conter a consciência do que jamais tive. No fim das contas, no frenético violar das pétalas, eu anseio profundamente pelo dia em que meu rubor cederá à natureza e que a beleza deixe me castigar.

3 de janeiro de 2012

Let's talk about love and despair...

Eis que anos depois de destruir todos os pilares de minha já frágil estrutura interna, volta o erômeno invertido para bater com as mãos n'água e agitar a superfície de minha aparente estabilidade, que Dinah me ensinou ser a extremidade que esconde profundos desconhecimentos. Pena ser eu um erasta de língua de chumbo, que fala tudo sem dizer nada, e que não oculta o desgosto de si para atribuir-se o papel de velho que corre atrás de jovens, quando é mais jovem que o objeto de seu desejo. Ou bem escondia o rubor, ou bem se continha para não fazer a pergunta que mudaria o eixo de todas as possíveis relações futuras. No fundo, queria arriscar e jogar todas as cartas na mesa, mas se desconhece a maior parte de si, ao menos conhece de cabo a rabo este caractere que o impede de falar quando precisa, e o põe a tagarelar quando carece de ouvintes.