31 de janeiro de 2014

Fogo

Nas tristes e frias noites de inverno da minha vida, o fogo persistia em seu contraste, sob o gelo, a neve e o frio egoísta, o possessivo acompanhante dos corações petrificados. O fogo atrai o olhar, aquece os ossos, humaniza. Mas o tirano gelado mantém seus súditos protegidos do calor, somente os alimentando de tristeza, a matéria que lhes compõe as almas. Nos anos que já não posso contar nos dedos das mãos, permiti, eventualmene, que o fogo me tocasse e deixasse sua marca, para então se apagar e não estar presente quando o frio moralizador percebesse a minha falta e proclamasse o tão conhecido: “Eu te avisei”, tão logo constatasse que meu corpo queimado não vingou meu coração gelado. Novamente o fogo surge, com sua voraz necessidade de incendiar tudo que minha visão alcança. Meu defeito, no entanto, não me permite aprender com os erros, e mesmo sabendo que mais e mais camadas rochosas cobrirão meu desejo quando a ignição cessar, me concederei a ousadia de me atirar às chamas, e me deixar queimar assumindo o risco de morrer sozinho nas cinzas de um amor incontido, na esperança de que quando as chamas se forem, pra onde quer que seja, meu coração as acompanhe.