Nas tristes e frias noites de inverno da minha vida, o fogo persistia em seu contraste, sob o gelo, a neve e o frio egoísta, o possessivo acompanhante dos corações
petrificados. O fogo atrai o olhar, aquece os ossos, humaniza. Mas o tirano
gelado mantém seus súditos protegidos do calor, somente os alimentando de tristeza, a matéria que lhes compõe as almas. Nos anos que já não posso contar nos
dedos das mãos, permiti, eventualmene, que o fogo me tocasse e deixasse sua marca,
para então se apagar e não estar presente quando o frio moralizador percebesse a
minha falta e proclamasse o tão conhecido: “Eu te avisei”, tão logo constatasse que
meu corpo queimado não vingou meu coração gelado. Novamente o fogo surge,
com sua voraz necessidade de incendiar tudo que minha visão alcança. Meu
defeito, no entanto, não me permite aprender com os erros, e mesmo sabendo que
mais e mais camadas rochosas cobrirão meu desejo quando a ignição cessar, me
concederei a ousadia de me atirar às chamas, e me deixar queimar assumindo o
risco de morrer sozinho nas cinzas de um amor incontido, na esperança de que
quando as chamas se forem, pra onde quer que seja, meu coração as acompanhe.
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