14 de fevereiro de 2014

Valentim

Materializar em palavras as dores e fervores que assomam nosso frágil músculo cardíaco é um ato de abnegação para o qual poucos têm coragem. Não que estes apaixonados e amantes confessos sejam mais corajosos. No máximo, o sentimento é mais doloroso, e sabemos que não existe móvel mais eficiente que a dor. Sabemos, também, por conta da experiência, que deste ato de coragem se seguem dois caminhos, um que conduz à felicidade, e outro que conduz à morte. Por isso se trata de uma conduta que nega o próprio sujeito, que o anula, que o priva do instinto primordial de todo ser vivo, que é se manter respirando. Ao interlocutor é dada uma espada e a ele restam duas opções: bater levemente com as costas da arma em nossos ombros, nomeando-nos o cavaleiro de seus desígnios, ou trespassar nosso coração e nos deixar a sangrar e morrer. No meu caso, depois de uns tantos ferros me atravessando, depois de umas tantas hemorragias e umas tantas cicatrizes e ressurreições, fui ingênuo ao crer que estaria calejado e imune à dor. Ainda me é dado tempo, uma vantagem para me afastar com poucos danos, não maiores que expectativas frustradas e choros lamuriosos. Mas, se por um lado, desde Platão sabemos que é a razão, e não nossa dimensão irascível ou concupiscente (leia-se, coração e baixo ventre), quem deve comandar a alma, por outro, ao menos desde Pandora já é de nosso conhecimento que a esperança é a última que morre, e com ela morremos juntos.

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