8 de setembro de 2011

O corpo na água

Dois colos conjugados não bastariam. No mínimo um oceano, cuja superfície de vidro me refletiria mórbido, de olhos abertos n'água, para amedrontar crianças, beatas e donzelas de vestidos esvoaçantes. Há uma eternidade de conforto das minhas costas ao abissal, e um universo de terror do meu rosto adiante. Por isso ocasionalmente fecho os olhos, não pra não assustar, mas para eu próprio não morrer duas vezes, de susto. Por silêncio e calmaria eu pago a fortuna que não tenho, mesmo correndo o risco de perdê-los sem sequer pestanejar. Atrevo-me, porém. Estou em posição tal que as vibrações da água me alcançam não forte o suficiente para me desestabilizar, nem com suavidade tamanha de modo a não me fazer sentir que mesmo putrefato, ainda vivo.

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