7 de novembro de 2011

Autótrofo

És como um Oroboro de significado deturpado. Não há religiosidade, misticismo ou qualquer doutrina de salvação e renovação no ato de alimentar-se de si próprio, em dor e tristeza, que são a matéria e a forma de tudo que se permite ser. Quanto mais produz, mais consome, quanto mais se tem, mais se quer, quanto mais dolorosa a pancada, mais digna a vida. Nem as pessoas que ama e para quem vive, por não poder viver por e para si próprio, uma vez que é pura grama, pura carne e puro nutriente, seriam capazes de mudar sua condição de incurável mártir. A piedade se converte em orgulho facilmente, e tu estraçalha-se com mais voracidade, na esperança de que não haja tempo para reconstituição e se desvaneça no incompreensível. Mas vítimas não cessam pragas. Se não doessem, de que serviriam os castigos? Como uma serpente sagrada ou um cão negligenciado, morde a própria calda e a boca cheia não o permite gritar de dor.

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