23 de julho de 2011

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Ares de cientificidade costumam cobrir tudo que escrevo. O que não quer dizer que seja ciência, mas somente que o autor é pretensioso (ou que é incapaz de fazer - ou querer fazer - de outra forma). E em sua desmedida ambição ou em seu impulso mercenário, desconsidera o dano e as feridas, as dores nas costas e nos calcanhares, a vista turva e a barriga vazia. Tal como um cavalo que persegue uma cenoura pendurada a uma vara erguida por quem o monta só enxerga o objeto de sua cobiça, necessita da coragem de outrem, da força de outrem, para derrubar o fardo em suas costas e fazê-lo perceber que os quilômetros percorridos em sua faina inconsciente não o levaram a lugar algum. Resta-lhe vencer o sentimento de tempo desperdiçado e retroceder, reaprender a sentir, a ver, a tocar e a ser tocado. E talvez assim, com todos os sentidos despertos pelo atrito da descoberta recém feita, sua libido saia do coma e Eros finalmente retorne ao lar.

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