29 de agosto de 2011

Incubus

Demônio disfarçado em carne, não contente em invadir somente sonhos, resolve roubar-me os momentos de sossego na vigília. Há justificativa no tremor das pernas e no apertar da traquéia. Basta o traçar duma linha invisível, de pupila a pupila, por milésimo de segundo, e o serviço está feito. Pilares e muralhas milenares ruem. Mil mãos apertam o coração com toda força num frenético dançar de braços. Braços cujos caminhos conduzem a um pescoço majestoso e a uma cabeça ornada por fios indescritivelmente perigosos, preenchida por olhar lupino e arcada felina. A volúpia que dessa clara confissão de masoquismo resulta é purificador. Dor emocional, prazer carnal - ou vice-versa. Deve-se extrair o máximo de benefício que essa situação pode proporcionar. O sofrimento converte-se em ganha-pão, mas o contrato de infelicidade não admite recisão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário